Não estou assustada.

Ao subir a escadas, senti o abandonar da estranha sensação de bem estar que restava daquela tarde, sendo substituída pelo receio ao pensar no que teria de suportar. Naqueles momentos transmitia todos os sinais de felicidade, nada me poderia chatear. Mas ao isolar-me no quarto, voltou tudo á rotina (...) Estas noites sem vida, quero dormir e não consigo. A história repete-se noite após noite. Passam horas e horas de zapping, horas e horas de leitura e de escrita. Parece que nada me sai bem, parece mesmo que desligo do mundo nestas alturas do dia. Tenho algo dentro de mim, que não está ainda resolvido, algo que me atormenta quando estou sozinha. Quanto mais quero parar, mais aquele mau estar constante e incomodativo me vem à mente. Esperei que o estado de dormência voltasse... Mas não voltou. Na realidade, quero evitar as recordações, mas não consigo. Estão a tomar conta do meu corpo, ele não me obedece. Sentei-me no chão, abracei os joelhos com força ... Não posso controlar mais nada, senão a mim. É o que vou fazer, só me assusta o que eu quiser. Não estou assustada.

Jéssica Cavaco